
Evento reuniu organizações dos estados Acre, Amapá, Amazonas e Pará para discutir estratégias de valorização e comercialização de produtos da sociobiodiversidade
No período entre 17 e 20 de fevereiro, o Centro Experimental Floresta Ativa (CEFA), localizado na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, sediou o Encontro de Empreendedores do Projeto Rede Floresta Digital. A atividade liderada pelo Projeto Saúde e Alegria e DW Akademie com apoio da União Europeia reuniu 23 participantes de diferentes territórios amazônicos para um processo de imersão voltado ao fortalecimento de empreendimentos sustentáveis e à construção coletiva de planos de visibilidade e instalação de redes comunitárias.
De acordo com a pesquisadora Adriane Gama, do Projeto Rede Floresta Digital do Projeto Saúde e Alegria, o evento representa uma continuidade das ações realizadas nos nove territórios atendidos. “Através das visitas realizadas, foi possível compreender os desafios enfrentados pelas comunidades na luta para manter a floresta em pé e a importância de fortalecer seus empreendimentos sustentáveis”, explicou.
Durante os quatro dias de atividades, os participantes trabalharam temas como produção de narrativas de comunicação, articulação entre iniciativas de base comunitária e reflexão sobre redes e tecnologias apropriadas para a realidade local. Para Maria do Carmo Freitas, do Quilombo de São Lourenço, o encontro foi uma oportunidade de compreender melhor o uso de ferramentas digitais para fortalecer as iniciativas comunitárias. “Discutimos a importância da rádio digital para dar maior visibilidade aos nossos produtos e empreendimentos, permitindo que sejam divulgados não apenas dentro da comunidade, mas também para o exterior”, destacou.
Sueli Murici, do território de Mazagão, Amapá, ressaltou a relevância do encontro para ampliar a visibilidade das produções locais. “A Rede Floresta Digital nos ajuda a sair do anonimato, aprimorando tecnologias ancestrais e conectando-nos com novos públicos.”
A reflexão sobre o uso consciente das tecnologias também esteve presente na fala de Maria Lúcia, do Quilombo do Curiaú – Amapá. “Foi importante entender como utilizar a tecnologia sem prejudicar nossa comunidade e encontrar formas de compartilhamento que respeitem nossos conhecimentos ancestrais.”
Para Anderlan Almeida, do assentamento Abril Vermelho – Assentamento MST – PA Vermelho, a formação ajudou a compreender conceitos como o funcionamento dos algoritmos e sua influência no cotidiano. “Passamos a enxergar a tecnologia como uma ferramenta para fortalecer nossa comunicação comunitária.”
A relação entre redes comunitárias e agroecologia foi um dos pontos discutidos ao longo do evento. O consultor Leandro Vieira/Colab, da Casa Preta, destacou a importância da autogestão das infraestruturas de comunicação pelas próprias comunidades. “A compreensão coletiva sobre a criação de um território digital livre, com servidores locais independentes da internet, pode ter sido um ponto de virada para muitos participantes.”
O encontro também proporcionou trocas de experiências entre os participantes, que compartilharam estratégias de valorização e comercialização de seus produtos por meio da comunicação comunitária e conectividade significativa centrada nas comunidades. Naira Matos, da Cooperativa de Turismo e Artesanato da Floresta, destacou a importância da iniciativa para fortalecer a permanência das pessoas em seus territórios. “Ao enxergar o potencial econômico e social de nossos territórios, percebemos que é possível desenvolver atividades sustentáveis sem precisar migrar para a cidade.”
O encontro foi fundamental para promover intercâmbio entre as nove comunidades participantes do projeto e iniciar a construção dos planos de visibilidade de cada comunidade. Foi espaço para que elas pudessem falar um pouco mais e aprofundar umas com as outras sobre as suas próprias iniciativas socioprodutivas, encontrando o que elas têm em comum, como elas podem trabalhar colaborativamente e de que forma de que forma elas podem se ajudar, explicou Luiza Cilente da DW Akademie. “Apesar da distância geográfica entre as comunidades, a ideia é que elas possam, realmente, trabalhar conjuntamente, trabalhar, se ajudando e trocando. A gente usou uma metodologia que promoveu espaço para esse tipo de troca, para que cada uma pudesse contar um pouco sobre a história das suas comunidades e como esses empreendimentos locais se relacionam com a comunidade”.
Fotos: Luiza Cilente/DW Akademie e Adriane Gama/PSA.